Um sonho realizado!

Trindade torna-se modelo de Assistência Farmacêutica na Atenção Primária

Uma farmacêutica conseguiu mudar a realidade da assistência farmacêutica na atenção básica de saúde em Trindade. Vanessa Rodrigues foi aprovada em concurso público em 2015 e, sozinha, atendia as 26 unidades básicas de saúde (UBS) do município. Hoje, Trindade tem 56 UBS e está prestes não só a ter um farmacêutico para cada, mas também consultórios farmacêuticos e até atendimento domiciliar. 

“É um sonho realizado”, conta a farmacêutica Vanessa. Foram anos de muito trabalho e de muita luta. Somente em 2020 ela conseguiu implantar um sistema informatizado do Ministério da Saúde para ter melhor controle da assistência básica.  Como a dispensação de medicamentos não era feita por farmacêutico em muitas unidades, Vanessa identificou diversos problemas, como a entrega de medicamentos errados, com doses inadequadas ou até vencidos. 

Em 2021, ela apresentou um projeto de assistência farmacêutica para a nova gestão da Secretaria de Saúde, apontou os erros identificados, as dificuldades enfrentadas e apresentou a solução e os benefícios de a população ter um farmacêutico mais próximo para lhe servir e cuidar.

Ela conseguiu apoio, centralizou a dispensação de controlados em seis unidades básicas, conseguiu a contratação de mais farmacêuticos e o município conta hoje com 23 destes profissionais. Em breve, todas as unidades terão um farmacêutico atuando. Mais do que isso. “Queremos capacitar os farmacêuticos para implantar consultórios farmacêuticos e até visitas domiciliares a pacientes”, conta Vanessa.

Farmacêutica Wandrya cuida do aposentado Itamar Bueno

Lançamento
O lançamento do Programa de Assistência Farmacêutica na Atenção Primária de Trindade foi feito pelo prefeito Marden Júnior, no dia 14 de janeiro de 2022. Todas as UBS de Trindade passam a contar com profissionais farmacêuticos para atender os pacientes após as consultas médicas, de segunda a sexta-feira, das 7 horas às 16 horas.

Além de ser responsável pela logística, pelo controle do estoque, abastecimento de medicamentos e insumos das unidades, o farmacêutico passa também a ser responsável pelo atendimento clínico, por atender o paciente, explicar termos técnicos da receita, avaliar os dados do paciente e suas condições de saúde e fazer intervenções, se necessário. 
“É um projeto inovador!”, elogiou o conselheiro regional Flaubertt Santana, que participou do evento como representante do CRF. “Em Goiás é o primeiro município que passa a ter farmacêutico em todas as unidades de saúde”, completou. 

Para o conselheiro, o projeto reconhece a importância do cuidado multiprofissional da saúde com a valorização do farmacêutico. “Estamos aptos a melhorar a saúde do paciente, a efetividade do tratamento medicamentoso, por meio do uso racional de medicamentos e da orientação farmacêutica e da dispensação especializada”, explicou Flaubertt. 
Ele elogiou o pioneirismo de Trindade e disse que em breve a gestão vai constatar o benefício, pacientes vão responder mais positivamente ao tratamento e isso vai diminuir o gasto com produtos e vários retornos às unidades de saúde. “Todos ganham com esse programa”, conclui.

Farmacêutico a domicílio
O objetivo da nova assistência farmacêutica de Trindade é acompanhar de perto os pacientes atendidos pela rede básica de saúde, identificar dificuldades de adesão ao tratamento e reações adversas aos medicamentos. Os primeiros passos para essa realidade já começam a ser dados. A farmacêutica Wandrya Domingues de Oliveira atua na unidade de saúde Vida Nova, em Trindade, onde 70% dos pacientes são idosos, não alfabetizados e fazem uso de vários medicamentos – são polifarmácia – e precisam de mais atenção e cuidados.

O aposentado Itamar Policarpo Bueno tem diabetes, visão comprometida pela doença, mora sozinho, numa região bem carente, numa área descoberta -- onde não recebe a visita de agentes de saúde – e faz uso contínuo de vários medicamentos. Na última consulta na UBS, ele apresentou uma ferida no pé. O médico receitou antibióticos e outros medicamentos e a farmacêutica deu as orientações de como administrá-los. Mas, passados alguns dias, ele voltou à UBS porque não conseguiu usar os medicamentos de forma correta e pediu ajuda. Wan­drya foi até a casa dele e encontrou diversos medicamentos misturados. 

Como o Itamar não sabe ler e ainda tem a visão diminuída por conta da diabetes, a farmacêutica organizou os medicamentos em caixas e gavetas na casa dele: uma para os medicamentos da manhã, outra para a noite e uma terceira com os medicamentos para dor. “Ele entendeu direitinho, ficou muito feliz e satisfeito e eu saí de lá com a sensação de dever cumprido!”, relata Wandrya. 

“É a melhor coisa que tem! Eu nunca tinha ganhado uma visita dessa não. Ela separa meus remédios porque eu não sei ler, deixa tudo arrumadinho para eu tomar o remédio no horário certo. Eu não tenho ninguém para fazer isso pra mim e agora ela está cuidando de mim e eu agradeço muito”, conta Itamar.
Dias depois da primeira visita, Wandrya ligou para ele e atestou que estava tudo indo bem e o tratamento estava dando certo. “Ele ficou feliz e me agradeceu várias vezes, mas eu que fiquei grata pela oportunidade de estar cuidando, orientando e trabalhando para melhorar a saúde e a qualidade de vida dessa população tão carente”, contou emocionada. Wandrya tem 12 anos de profissão e está muito feliz por poder participar desse projeto. “É tão difícil um farmacêutico ser reconhecido por seu trabalho. Eu estou muito feliz”, comemora.

Gestão mais segura
O secretário de saúde de Trindade, Rogério Taveira Miguel, é médico, trabalha na área da saúde há mais de 30 anos e sabe da diferença que faz um profissional farmacêutico atuando nas unidades básicas de saúde. “É notória e muito clara a importância do farmacêutico tanto na distribuição, quanto na avaliação e no acompanhamento do paciente”, avalia. 

Além da qualidade técnica do trabalho, o secretário destaca a vantagem econômica para a gestão. “O farmacêutico garante um bom atendimento, sem transtornos e sem desperdício”, completa. Ele explica que quando o paciente é bem atendido e recebe orientações detalhadas de como administrar o medicamento e dar continuidade ao tratamento, ocorre a prevenção de perdas, falhas e fracasso no tratamento. “É mais seguro para a gestão”, conclui.